Ascensão do Morro dos Dois Irmãos:
Descobrindo do Alto um Rio Dividido de Toda Beleza
Do alto da favela pacificada de Vidigal (zona sul do Rio de Janeiro), um caminho sinalizado, delimitado e mantido pelos moradores permite alcançar sem dificuldade o topo dos Dois Irmãos, um morro mítico para os cariocas. No seu ponto culminante, toda a cidade desfila aos seus olhos como se estivesse assistindo ao carnaval das arquibancadas do Sambódromo: um Rio duplo, impresso em dois exemplares, “um de luxo e um de desastre'”. No caso de Vidigal, sobressaindo o bairro nobre de Ipanema, seus moradores retomaram seu destino em suas mãos.
Negligenciada pelos turistas que descobrem o Pão de Açúcar de teleférico ou acessam o Cristo Redentor de trem, essa caminhada fácil começa no topo do morro de Vidigal, que domina o bairro nobre de Ipanema, na zona sul do Rio. Ela permite contemplar do topo dos Dois Irmãos uma das vistas mais belas da cidade.
Um cartão postal do Rio
Cenário das fotos turísticas das praias do Leblon e de Ipanema, o morro dos Dois Irmãos faz parte dos marcos e da cultura dos cariocas. Na música de Chico Buarque (Morro Dois Irmãos), as duas massas rochosas graníticas em forma de pão de açúcar ganham vida:
"Dois Irmãos, quando vai alta a madrugada
E a teus pés vão-se encostar os instrumentos
Aprendi a respeitar tua prumada
E desconfiar do teu silêncio
Penso ouvir a pulsação
atravessada
Do que foi e o que será noutra
existência
É assim como se a rocha dilatada
Fosse uma concentração de tempos."
Culminando a 533 metros acima do nível do mar, eles se elevam sobre o Pão de Açúcar (396 m), que se destaca atrás da Pedra do Arpoador.
Vidigal, "a favela dos artistas"
Localizado nas alturas do Vidigal, um caminho de 1,5 quilômetro permite chegar ao topo dos Dois Irmãos em menos de uma hora. Para ser deixado na entrada do caminho (a trilha ecológica do Vidigal), pode-se pegar uma das muitas mototáxis que ficam estacionadas na parte inferior do bairro na Praça do Vidigal. Esta praça, onde os habitantes esperam pelo ônibus, margeia a avenida Niemeyer. No início do século XX, os trabalhadores que construíram essa estrada ao longo da orla do oceano Atlântico instalaram suas barracas – as primeiras habitações do Vidigal – nas alturas perto do canteiro de obras.
Atrás da moto, agarre-se, principalmente nas curvas fechadas, pois a subida é forte! Como em um road movie eletrizante, você poderá admirar durante a subida as belíssimas pinturas murais, portadoras de mensagens políticas e reivindicatórias, que servem de cenário para a favela. A estrada estreita, onde é difícil se cruzar, está repleta de lojas – mercearias, restaurantes, bares, etc. – mantidos pelos moradores, na maioria nascidos no Vidigal, como o jovial proprietário da Esquina da Pizza do Bento.
Alvo de um conflito sangrento nas décadas de 1990 entre facções criminosas do Vidigal e da Rocinha, Vidigal foi pacificada com a chegada da 19ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em 18 de janeiro de 2012. Hoje a favela dispõe de hospedagens turísticas (hostels, pousadas) e de muitas lojas. É agradável ficar lá alguns dias, passear durante o dia a pé por suas vielas sem nome não identificadas pelos GPS e conhecer seus habitantes.
Apelidada de « favela chic do Rio », o Vidigal experimentou um fenômeno de especulação imobiliária no momento da Copa do Mundo de Futebol do Rio em 2014, com a instalação de artistas e de « gringos » no sopé do bairro em uma alameda rebatizada de « rua dos ricos ».
Com cerca de 50 mil habitantes segundo uma estimativa local, é conhecida por sua escola e sua trupe de teatro, Nós do Morro. Criada em 1986 pelo ator e coach artístico Guti Fraga, formou gerações de atores nativos do bairro, como Roberta Rodrigues (a Berenice do filme Cidade de Deus) e Thiago Martins.
A trilha ecológica do Vidigal
Aberta há uma década, a trilha ecológica do Vidigal foi criada pelos moradores, que a mantêm regularmente. Antes de começar, é preciso pagar uma taxa de entrada de 10 reais ou um quilo de comida, que financia projetos de desenvolvimento da favela.
Fácil e bem sinalizada, a trilha atravessa uma parte da floresta tropical da Tijuca, pulmão verde do Rio de Janeiro, com sua vegetação exuberante – orquídeas, figueiras, flamboyants rosas e vermelhos, jacarandás… A área é habitada por pequenos mamíferos (esquilos, tatus…), diferentes espécies de macacos (bugios, micos, araranhas, saguis-de-tufo-preto), de aves – papagaios, tucanos, beija-flores, gaviões, corujas-das-torres…
No caminho, a trilha oferece dois pontos de vista deslumbrantes sobre o bairro ultrachique de São Conrado – com seu campo de golfe, seus hotéis luxuosos à beira-mar (Praia da Gávea e do Pepino), seu shopping de alto padrão – e a favela da Rocinha. Como uma ilustração impressionante da divisão socioespacial do Rio, que conta com 1.074 favelas, onde residem cerca de 1,5 milhão de pessoas, ou seja, 22% de sua população.
Rocinha, a maior favela do Rio
« As favelas do Rio gostam das alturas. Rocinha é uma cidade dilacerada, um reverso da cidade, entranhas da cidade: cada edifício parece repousar não no chão, mas sobre outro edifício. No seu topo, as casas que coroam o morro nem mesmo estão conectadas aos serviços públicos, estão entregues ao seu desastre, à sua solidão, como se o inferno estivesse no céu, não nas entranhas da Terra », destaca Gilles Lapouge.
Em todo o país, o Instituto contabiliza 11.403 favelas definidas como uma ‘forma de ocupação irregular de terras para fins habitacionais em áreas urbanas caracterizada por um padrão urbano errático, falta de serviços públicos essenciais e localização em áreas sujeitas a restrições de ocupação’. Cerca de 16 milhões de pessoas vivem nelas, quase 40% a mais do que em 2012.
Uma vista impressionista da cidade
Formada entre o mar e as montanhas, o Rio, a « Cidade Maravilhosa », merece bem seu outro apelido de « Cidade cartão-postal ».
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